segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Língua Portuguesa - Estudos gramaticais Parte - 1

O enunciado e a geração de sentidos 

Precisamos lembrar que, numa língua, as palavras se organizam de acordo com regras sintáticas que tornam lógico o enunciado. Assim, podemos dizer que, na língua portuguesa, as palavras são construídas e organizadas em torno de duas classes principais: o substantivo e o verbo. Entretanto, é importante perceber que, em contexto, essa regra se torna relativa, já que é possível criar enunciados que abram mão dessas classes, uma vez que elas podem estar implícitas em enunciados anteriores. Também é necessário ter em mente que, ainda que sejam as palavras principais - ou básicas - da língua, o substantivo e o verbo não dão conta da construção de mensagens complexas, em que se precisa dizer mais do que essas palavras dizem. Como, então, se pode pensar nessa organização?
Uma vez que recordamos, na oficina "O que a gramática nos diz", as classes de nossa língua, podemos fazer um ensaio em que elas aparecem nomeadas, para, mais adiante, pensarmos num mecanismo em que os nomes deixem de ocupar o primeiro plano desse esquema. Pensemos, então, na seguinte configuração:
Esquema de classes de palavras

 A partir desse esquema, podemos trabalhar com as possibilidades de geração de sentidos que a organização do enunciado permite. Para o aluno, é importante perceber que a mudança de uma palavra dependente acarreta alteração - e, consequentemente, nova produção - de sentido do que se diz ou se escreve.

A conceituação das classes de palavras torna-se bastante frágil diante dos fatos dinâmicos da língua. Por isso, mais relevante que esses conceitos é a funcionalidade de cada classe de palavras. Quando falamos em funcionalidade estamos falando na aquisição dos mecanismos de instrumentalização dessas palavras, de modo que seu uso, tanto oral quanto escrito, se torne proficiente. De nada serve a nossos alunos reconhecer o nome de cada palavra se ele não percebe de que maneira ela funciona na língua.
Assim, procuramos buscar uma metodologia que ofereça ao aluno a possibilidade de pensar e de construir - pensar sobre o que lê e ouve; construir o que fala e escreve.
Nesse sentido, o exercício da leitura e da escrita - necessariamente nesta ordem - torna-se pilar de sustentação dessa metodologia. Imaginemos uma aula em que nosso objetivo seja apresentar ao aluno a organização das palavras na língua. Como poderíamos fazer? Que tal começar com... claro, um texto!

O menino maluquinho (fragmento)

Ziraldo
Era uma vez um menino maluquinho. Ele tinha o olho maior que a barriga, tinha fogo no rabo, tinha vento nos pés, umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo) e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão.)
Ele era um menino impossível! Ele era muito sabido, ele sabia de tudo, a única coisa que ele não sabia era como ficar quieto. Seu canto, seu riso, seu som nunca estavam onde ele estava. Se quebrava um vaso aqui logo já estava lá. Às vezes cantava lá e logo já estava aqui. Pra uns, era uirapuru, pra outros, era um saci.
Na turma em que ele andava, ele era o menorzinho, o mais espertinho, o mais bonitinho, o mais alegrinho, o mais maluquinho. Era tantas coisas terminadas em inho que os colegas não entendiam como é que ele podia ser um companheirão.(...)

Substantivo e verbo

 

Esquema de classes de palavras

 Resgatando o esquema apresentado, estaremos trabalhando com duas classes básicas: os substantivos e os verbos. Os dependentes do substantivo - artigos, numerais, pronomes e adjetivos - e os dependentes do verbo - advérbios - aparecem ligados às classes principais. O texto proposto oferece uma rica rede de relações que vão além de sua leitura superficial. Afinal, trata-se de um texto literário, cuja característica diferencial é justamente a pluralidade de leituras. Com isso, o primeiro passo é trabalhar com a própria leitura do texto, procurando, nesse momento, destacar:

  • De quem o texto fala?
  • O que o texto fala?
O texto fala de um menino. Dele, se diz que: é maluquinho, tem o olho maior que a barriga, tem fogo no rabo etc. Então, podemos imaginar essas informações organizadas, esquematicamente, da seguinte forma:


Esquema de informações organizadas


Trocando em miúdos, o que isso significa? Significa que uma das palavras mais importantes que temos no texto é a palavra "menino". É dele que o texto fala, por isso, sem essa palavra, o assunto do texto não existiria. Se trocássemos essa palavra por outra, o texto seria outro, diferente, com outro(s) significado(s). As palavras que giram em torno da palavra "menino" são informações que o texto nos dá a respeito desse menino. Essas informações nos dizem como ele é, o que os outros pensam dele. Se mudarmos essas palavras, continuaremos a falar do menino, mas estaremos mudando as informações a seu respeito. Assim, podemos considerar que "menino" é uma palavra básica - ela é o centro do que vai ser narrado, e as que orbirtam a seu redor são palavras dependentes - pois têm como função enumerar características do menino.




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