segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Português - É possível aprisionar as palavras???

Texto real e classes de palavras: é possível aprisionar as palavras???

Introdução

Vamos destacar aqui alguns pontos que consideramos básicos para uma reflexão mais sistemática sobre o ensino de língua materna.
É importante discutir, ainda, e principalmente, sobre o papel das classes de palavras, ou melhor dizendo, da classificação das palavras em classes, ou ainda, do valor semântico das próprias palavras quando o que queremos destacar é o texto e seu contexto. Aí, nesse caso, " lé pode começar a não bater com cré"... Quer ver?

É possível aprisionar as palavras???

 

EXEMPLO 1: Charge da Mafalda. Quadro 1: Mafalda diz: "Que bom, chegou a primavera!". Quadro 2: Mafalda vê dois velhinhos conversando: "Que bom, cheguei à primavera!". Quadro 3: Mafalda retruca: " E eu dizendo trivialidades..."

Fonte: QUINO, 1993


 Analise, no último quadrinho da charge, a reflexão de Mafalda. Essa reflexão refere-se a quê? Que modificações de sentido são introduzidas na charge, a partir da mudança verbal e da crase (lembra-se? Junção do "a" preposição com o "a" artigo, que fica assim:à) no lugar do artigo?

 Foto de placa com os seguintes dizeres - "Pousada Alto do Penedo - {H} á melhor vista da cidade - a letra "h" e o acento foram colocados por algum transeunte

  anúncio trazido de Penedo também trabalha com a modificação de sentidos, a partir da colocação de uma letra, criando outro vocábulo no texto apresentado. Como é essa utilização e qual a modificação que ela construiu?
Nos três exemplos há constituição de sentidos diferentes a partir da utilização das palavras em, aparentemente, pequenas modificações gramaticais (Mafalda), ou em acréscimo de letras que, criando outra palavra - e modificando a classes da palavra - constrói outro sentido (placa de Penedo).
Isso nos leva à pergunta que abriu esta oficina: é possível aprisionar as palavras? E acrescentamos outras:
  • As palavras se deixam aprisionar?
  • As classes de palavras são determinantes nas interpretações que realizamos em alguns textos ?

Adicione-se a estas perguntas o fato de que estamos, tão somente, refletindo sobre a relação existente entre a categorização sistemática das palavras em classes gramaticais e seu uso corrente em textos. Em outras palavras, sobre a ascendência das questões gramaticais sobre a fala e a escrita existentes no cotidiano de nossa comunicação. E se pensássemos, agora, sobre a importância do texto - e de seu contexto - na construção de sentidos quando nosso cenário é a escola, mais precisamente, a sala de aula???
Provavelmente, nossas reflexões nos encaminham a pensar sobre a conveniência do trabalho com o texto, ao invés do trabalho que vivenciamos quando alunos - as palavras soltas, fragmentadas, no máximo conectadas em orações ou períodos geralmente sem sentido para nós - e que nos fazem, até hoje, perguntar: O que é ensinar língua materna?
 Esperamos ter deixado você, professor, com muitas dúvidas acerca da natureza da língua materna; dos usos que a constituem e, principalmente, de seu ensino nos anos iniciais do ensino fundamental... Um de nossos objetivos era esse: deixar você com a "pulga atrás da orelha" em relação à sempre eterna pergunta: será que nós ensinamos, realmente, a língua materna???

Nenhum comentário:

Postar um comentário