Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos educandos.
Uma
visão da educação é na intimidade das consciências, movida pela bondade
dos corações, que o mundo se refaz. É, já que a educação modela as
almas e recria corações ela é a alavanca das mudanças sociais.
Se
antes a transformação social era entendida de forma simplista,
fazendo-se com a mudança, primeiro das consciências, como se fosse a
consciência de fato, a transformadora do real, agora a transformação
social é percebida como um processo histórico.
Se
antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma
autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo
educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como
leitura aos alunos escondiam a realidade, agora pelo contrário,
alfabetização como ato de conhecimento, como um ato criador e como ato
político é um esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é
possível textos sem contexto.
A
alfabetização de adultos e pós-alfabetização implicam esforços no
sentido de uma correta compreensão do que é a palavra escrita, a
linguagem, as relações com o contexto de quem fala, de quem lê e
escreve, compressão, portanto da relação entre “leitura” do mundo e
leitura da palavra. Daí a necessidade que tem uma de biblioteca popular,
buscando o adentramento crítico no texto, procurando aprender a sua
significação mais profunda, propondo aos leitores uma experiência
estética, de que a linguagem popular é inteiramente rica.
A
forma com que atua uma biblioteca popular, a constituição do seu
acervo, as atividades que podem ser desenvolvidas no seu interior, tudo
isso tem que ser como uma certa política cultural.
1.2 - O Povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe
Segundo Freire com a alfabetização de adultos no contexto da República
Democrática de São Tomé e Príncipe, a cujo governo vem dando juntamente
com Elza Freire, uma contribuição no campo da educação de adultos como
assessor, se torna indispensável uma concordância em torno de aspectos
fundamentais entre o assessor e o governo assessorado. Seria
impossível, por exemplo, dar uma colaboração, por mínima que fosse a
uma campanha de alfabetização de adultos promovido por um governo
antipopular. Não poderia assessorar um governo que em nome da primazia
da “aquisição” de técnicas de ler e escrever palavras por parte dos
alfabetizando, exigi-se, ou simplesmente sugerisse que fizesse a dicotomia entre a
leitura do texto e a leitura do contexto. Um governo para quem a
leitura do concreto, o desenvolvimento do mundo não são um direito do
povo, que, por isso mesmo, deve ficar reduzido à leitura mecânica da
palavra.
É
exatamente este aspecto importante — o da relação dinâmica entre a
leitura da palavra e a leitura da realidade em que nós encontramos
coincidentes os governos de São Tomé e Príncipes e nós.
Todo
esforço que vem sendo feito em São Tomé e Príncipe na prática da
alfabetização de adultos como na da pós-alfabetização se orienta neste
sentido. Os cadernos de cultura popular vêm sendo usados pelos educandos como livros básicos, com exercícios chamados Praticar para o Aprender.
A linguagem dos textos é desafiadora e não sloganizado. O que se quer é
a participação efetiva do povo enquanto sujeito, na reconstrução do
país, a serviço de que a alfabetização e a pós-alfabetização se acham.
Por isso mesmo os cadernos não são nem poderiam ser livros neutros, é a
participação crítica e democrática dos educandos no ato de conhecimento
de que são também sujeitos. É a participação do povo no processo de
reinvenção de sua sociedade, no caso a sociedade são tomense,
recém-independente do jugo colonial, que há tanto tempo a submetia.
É
preciso, na verdade, que a alfabetização de adultos e a
pós-alfabetização, a serviço da reconstrução nacional, contribuam para
que o povo, tomando mais e mais a sua História nas mãos, se refaça na leitura da História, estando presente nela e não simplesmente nela estar representado.
No
fundo o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo
é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres
sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas
sabem, mas sabem que sabem.
O povo tem de conhecer melhor, o que já conhece em razão da sua prática e de conhecer o que ainda não conhece.
Nesse
processo, não se trata propriamente de entregar ou de transferir às
massas populares a explicação mais rigorosa dos fatos como algo acabado,
paralisado, pronto, mas contar, estimulando e desafiando, com a
capacidade de fazer, de pensar, de saber e de criar das massas
populares.
Na alfabetização pós-alfabetização não nos interessa transferir ao Povo
frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução
nacional, exigem de todos nós uma participação consciente em qualquer
nível, exige ação e pensamento, exige prática e teoria, procurar
descobrir de entender o que se acha mais escondido nas coisas e aos
fatos que nós observamos e analisando.
A reconstrução nacional precisa de que o nosso Povo conheça mais e melhor a nossa realidade.
2 - análise das idéias do autor
Ao elaborar uma síntese das reflexões sobre o livro “A Importância do
Ato de Ler” e as relações da biblioteca popular com a alfabetização de
adulto de Paulo Freire, leva-nos a compreensão da prática democrática e
crítica da leitura do mundo e da palavra, onde a leitura não deve ser
memorizada mecanicamente, mas ser desafiadora que nos ajude a pensar e
analisar a realidade em que vivemos. “É preciso que quem sabe, saiba sobre tudo que ninguém sabe tudo e que ninguém tudo ignora” (FREIRE, p.32).
É
essencial que saibamos valorizar a cultura popular em que nosso aluno
está inserido, partindo desta cultura, e procurando aprofundar seus
conhecimentos, para que participe do processo permanente da sua
libertação.
“A
biblioteca popular como centro cultural e não como um depósito
silencioso de livros, é vista como um fator fundamental para o
aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto
em relação com o contexto” (FREIRE, p.38).
Nesse
sentido a atuação da biblioteca popular, tem algo a ver com uma
política cultural, pois incentiva a compressão crítica do que é a
palavra escrita, a linguagem, as suas relações com o contexto, para que o
povo participe ativamente das mudanças constantes da sociedade.
“O
processo de aprendizagem na alfabetização de adultos está envolvida na
prática de ler, de interpretar o que lêem, de escrever, de contar, de
aumentar os conhecimentos que já têm e de conhecer o que ainda não
conhecem, para melhor interpretar o que acontece na nossa realidade” (FREIRE, p. 48).
Isso
só conseguimos através de uma educação que estimule a colaboração, que
dê valor à ajuda mútua, que desenvolva o espírito crítico e a
criatividade: uma educação que incentive o educando unindo a prática e a
teoria, com uma política educacional condizente com os interesses do
nosso Povo.
Conclusão
Concluímos com a leitura desse livro, nós educadores e educandos para
melhorarmos nossa prática devemos começar a avalizar que, a importância
do ato de ler, não está na compreensão errônea de que ler é devorar de
bibliografias, sem realmente serem lidas ou estudadas. Devemos ler
sempre e seriamente livros que nos interessem, que favoreçam a mudança
da nossa prática, procurando nos adentrarmos nos textos, criando aos
poucos uma disciplina intelectual que nos levará enquanto professores e
estudantes não somente fazermos uma leitura do mundo, mas escrevê-lo o
reescrevê-lo, ou seja, transformá-lo através de nossa prática
consciente.
Sabemos
que, se mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler, teremos condições
de formar as nossas bibliotecas populares, incentivando os grupos
populares e a escrever seus textos desde o início da alfabetização;
assim iríamos aos poucos formando acervos históricos escritos pelos
próprios educandos.
E
através da cultura popular o que se quer é a afetiva participação do
povo enquanto sujeito na construção do país, pois quanto mais consciente
o povo faça sua história, tanto mais que o povo perceberá, com lucidez
as dificuldades que tem a enfrentar, no domínio econômico, social e
cultural, no processo permanente de sua libertação.
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