segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O que é ensinar?

Como definir o que é ensino, para chegar ao ensino de língua materna? Atualmente, nos deparamos com a preocupação que têm os educadores de "fazer educação", em lugar de "fazer ensino". Essa preocupação é legítima e tem suas razões. Pensemos um pouco a respeito disso, resgatando a concepção de ensino de alguns séculos antes de nós.
Para começar, vamos buscar a etimologia da palavra ensino: o termo vem do latim insignare, que significa "marcar com um sinal". Isso significa que o mestre deixa uma marca no seu discípulo, um sinal. Mas, que tipo de sinal?
Cardeal Mazarin sucedeu Richelieu em 1642, na França, e escreveu o Breviário dos políticos nos anos que assistiram às guerras civis inglesas, que culminaram na decapitação do rei Carlos I.
Repare que o próprio termo - imperativo - já se origina de imperar, mandar, ordenar...Todo imperativo reflete uma ordem, portanto.
Marcar com um sinal não é necessariamente algo positivo. Muitos ensinamentos visaram, ao longo da História, ao aperfeiçoamento da dissimulação e da vitória dos fortes sobre os excluídos. Um exemplo desse tipo de "mestre" é o Cardeal Mazarin que, em seu Breviário dos políticos, faz uma apologia, entre outras coisas, à arte de envolver através do poder das palavras. Esse poder é também garantido, como vimos, àqueles que possuem o saber instituído, e à suposição de que este saber confere à pessoa que o possui credibilidade e respeito, segundo o autor. Assim, o cardeal escreve seu breviário todo no imperativo, fazendo de seu ensinamento uma verdade a ser seguida. Vamos ver algumas passagens da obra citada:
Se deves escrever num lugar por onde passa muita gente, coloca verticalmente diante de ti uma folha já escrita e finge recopiá-la. Faz que todos a vejam.
 Repare que o próprio termo - imperativo - já se origina de imperar, mandar, ordenar...Todo imperativo reflete uma ordem, portanto.
 Cardeal Mazarin sucedeu Richelieu em 1642, na França, e escreveu o Breviário dos políticos nos anos que assistiram às guerras civis inglesas, que culminaram na decapitação do rei Carlos I.


Se uma frase desastrada te escapa, se dizes uma asneira, afirma imediatamente que o fizeste de propósito para colocar a assistência à prova ou para troçar de alguém.
Se alguém se engana por ignorância, que tuas perguntas não venham revelar que em seu lugar terias cometido o mesmo erro, estando na mesma ignorância.
É importante ler obras sobre a afirmação e a demonstração, a ordem e a colocação das palavras, a dedução, a prova e a argumentação, a redução dos silogismos, a maneira de dispor a premissa maior, de reforçar a menor e de consolidar ambas, as conclusões positivas ou negativas, as regras da objeção, as articulações do discurso, as leis de desenvolvimento de um parágrafo, as figuras de estilo, a avaliação da força ou da fraqueza de um ponto de vista contrário, de suas zonas de fragilidade e de seus recursos de defesa."
Consulta com frequência os tratados dos grandes retóricos: estes sabem não apenas provocar o ódio, mas também voltá-lo contra os que o provocaram; são capazes de excitá-lo ou de atenuá-lo. Eles te ensinarão igualmente como acusar ou te defender com a maior eficácia. O mais importante é aprender a manejar a ambiguidade, a pronunciar discursos que possam ser interpretados tanto num sentido como no outro a fim de que ninguém possa decidir." (MAZARIN, 1997.)
Segundo os conselhos do autor, a palavra deve ser uma arma, um escudo, um privilégio capaz de assegurar aos poucos que a aprendem a dominar uma boa dose de poder. Sob essa perspectiva, ensino que equivale a conselho é uma marca impositiva, que mostra o caminho do domínio. A linguagem do poder é manifestada inclusive por esse uso da palavra - ou da língua - mas também é reconhecida nos gestos, nas expressões, nas atitudes, como fica claro no primeiro trecho citado.

Até que ponto nossa linguagem ensina, até que ponto ela permite aprender?

E hoje? Que linguagem ou que linguagens temos utilizado nós, professores, em nossas salas de aula? Temos lidado com a construção do pensamento, a construção do saber, ou temos demonstrado o nosso pensamento e o nosso saber? Temos sido lentes?
Ao longo dos séculos, a interpretação da função do professor foi ficando também mais abrangente e bastante diferente. E sua linguagem, mudou? Foi-se o tempo em que "lente" era sinônimo de "professor", que era assim chamado porque era ele quem lia para os alunos. Era através de seu olhar que o aluno deveria aprender, "beber de suas palavras". Ou seja, um único olhar era admitido...
Mas será que esse "único olhar" é realmente único? Ao olharmos as figuras abaixo, enxergamos - todos - as mesmas imagens???







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